SONETOS 2018

I

O tempo mostra à vida o seu tamanho

E a dimensão exata do que somos,

O livro que escrevemos, mesmo estranho,

Poderá ter —quem sabe?—  muitos tomos.

Quando jovens a morte não é tema,

Quando velhos sentimos a presença.

Fizemos, pelos anos, nosso esquema

Com certezas e, às vezes, com descrença.

Embora tudo gere mais cansaço,

De tudo temos mais conhecimento

E sabemos qual é o nosso espaço,

Que não tem, nesta idade, mais aumento.

É feliz quem a si não dá valor

E oferta para os seus somente amor.

SP, 16/01/2018.

II

A inspiração no tempo é diferente.

Na juventude a vida é só romance,

Na mocidade sonha toda gente

Que uma grande aventura cria o lance.

Na madureza, corre uma esperança

Que a velhice se encontr’inda  distante,

Porém se bem mais forte, o esforço cansa

E os desejos já não são mais de infante.

Por fim, aos poucos, a senilidade

A tudo dificulta, todo o dia.

Memória do passado dá saudade

E a perda dos amigos faz a via.

Mas quem em Deus desvenda seu carinho,

Descobre como é belo este caminho.

SP, 22/01/2018.

-III-

PARA RUTH NO ANIVERSÁRIO DA ANGELA

Há tanto tempo que eu te quero tanto,

Há tanto tempo tu me queres bem,

Por tanto amor o quanto de meu canto

Fica meu canto sempre muito aquém.

São décadas e décadas de amor,

Que sem sentir o tempo vem e passa,

Nesta paixão há sempre muita cor

Num sonho que se bebe em linda taça.

És ponte da família para Deus,

Que atravessamos sempre bem felizes,

Tu pedes ao Senhor por todos seus

E nós todos seguimos o que dizes.

Há tanto tempo que eu te quero tanto

Que meu amor não cabe neste canto.

SP, 09/02/2018.

IV

Para a tatuagem de minha neta Fernanda.

Uma espada cravada em coração,

Que responde com flores, como o sândalo,

Perfumando, se um golpe leva-o ao chão,

O que parece ser mais do que escândalo.

Assim Cristo pediu pelos algozes,

Como o sândalo augusto perfumando

As machadadas frias e sem vozes,

Ao modo dos cristãos de quando em quando.

A tatuage’está na minha neta,

Não é nem muito grande, nem pequena,

As minhas eu as tenho, pobre asceta,

As rugas da velhice, em tez serena.

Fernanda, eu amo a filha de uma filha,

Que torna sempre alegre esta família.

Jaguariúna, 11/02/2018.

V

Para Ruth

 Buscando teu amor, todos os dias,

Todos os dias, vivo de teu lado,

São mesmo quando tensos, de alegrias,

Num tempo que se passa não notado.

Os ossos degeneram pela idade,

O andar mais arrastado faz-se lento,

Se tenho do pretérito saudade,

A velhice jamais eu a lamento.

O meu amor, porém, é sempre moço,

É sempre grande e sempre sem tropeço,

Pois tiro do mais fundo de meu poço

O sonho que por ti nunca tem preço.

Querer-te traz à vida segurança,

Que só por tua causa é que se alcança.

SP., 10/03/2018.

VI

Soneto da Senilidade

Quando digo que estou já bem senil,

Criticam-me dizendo de meu erro,

Pois falo, pois escrevo em tom viril,

Nas palavras o mal pondo em desterro.

O certo, todavia, é que a cabeça

Não envelhece, mas o corpo sim,

Embora ser senil não me aborreça,

As flores já são raras no jardim.

O coração, porém, sempre combate

O que de podre existe no país

E, se não há do bem qualquer resgate,

Nem por isto abandono a diretriz.

Como árvores que morrem sempre em pé,

Irei até o fim com minha fé.

SP. 17/03/2018.

SONETOS DA SENILIDADE

-VII-

Para Ruth

 

A pele mostra as rugas pelo tempo,

Tornando o qu’era belo em feia estampa,

A vida nunca foi um passatempo,

Pois para o fim se desce pela rampa.

A velhice desfaz qualquer imagem,

E muitas vezes fere o próprio amor,

O passado transforma-se em miragem

E o presente se perde sem calor.

O coração, porém, quando se ancora

Num querer permanente é sempre moço

Sem crepúsculo ou noite, mas aurora,

Descortinada num formoso esboço.

Assim sou eu, eterno apaixonado,

Feliz por tê-la, Ruth, de meu lado.

SP. 14/04/2018.

VIII-

SONETOS ALÉM DO TEMPO

Mais um retiro com Deus.

Todos os anos os faço.

Nele peço pelos meus,

Pois na agenda há sempre espaço.

Renovo as forças que tenho,

Mesmo poucas, vejo luz,

Relembro o pesado lenho

Que Cristo teve por cruz.

Meus valores permanentes,

Ruth, filhos e a família,

Meus amigos, são meus entes,

Que tornam leve esta trilha.

Este caminho, Senhor,

Por ti, foi feito de amor.

Aroeira, 21/04/2018.