ÚNICA VERDADE

ÚNICA VERDADE

(Eduardo Santhana e Ives Gandra)

 

Coloriu-se de verde o que era azul
E o sorriso da noite fez estrelas
Caminhamos do norle para o sul,
Na certeza de não poder relê-Ias.

Eu e tu desvendando luas novas
Tu e eu descobrindo novos astros
Desventura do imenso tu renovas,
Caravela à deriva, sem teus mastros.

Há quanto tempo eu vivo em teu espaço,
Há quanto tempo não te vejo só,
O destino traçado, passo a passo,
Ao pó retornará o que era pó.

Além de Deus em única verdade,
O nosso amor supera a própria idade

 

Vozes e violão: Eduardo Santhana
Violões: Diego Figueiredo

O VELHO E A MENINA (RUTH)

O VELHO E A MENINA (RUTH)

 

Não consigo te ver, na minha idade,

Mas sim como tu eras em menina,

Por isto não preciso ter saudade

De quando, linda, vi-te pela esquina.

 

E onde o coletivo me pegava,

Depois de ter estado em tua casa,

Minha alma era de ti, então, escrava

No espaço, navegando sem ter asa.

 

O tempo deste tempo foi passado,

Mas o passado faz-se tão presente,

Te tendo sempre, bela, de meu lado,

Em amor que jamais restou ausente.

 

Foi para estar contigo que, querida,

Um tempo Deus me deu a mais na vida.

 

SP. 12/12/2020.

IVES.

MEU VELHO BARCO

MEU VELHO BARCO

 

Eu sinto, agora, saudades

De meus versos versejar,

Passam, no tempo, as idades,

Como as ondas sobre o mar.

 

Tendo Ruth de meu lado,

Vivo, tranquilo, o destino

Que forjei, no meu passado,

No meu sonho de menino.

 

Todos quero na velhice,

Num coração sem ter magoas,

Neste andar pela planície,

Onde correm claras águas.

 

Volto ao verso, uma vez mais,

O velho barco, no cais.

 

São Paulo, 14/11/2020.

Ruth 86

Ruth 86

 

O meu amor infinito

É todo teu, meu amor, 

Há muito tornou-se mito

E não perdeu seu ardor. 

 

Um feliz aniversário

Eu te desejo outra vez,

De teu encanto corsário,

Mas a teus pés bem cortês.

 

O tempo passa e não passa,

Tua beleza pra mim,

Minh’alma sempre transpassa,

Tal linda rosa em jardim.

 

À Deus sou grato, querida,

De estares em minha vida. 

 

Ives.

01/07/2020

 

POEMAS DA FINITUDE (2020)

POEMAS DA FINITUDE (2020)

 

 

SENHOR.

 

Ana, a sacerdotisa, viu Jesus

–Dizia a Bíblia ter já muita idade–,

Mesmo assim percebeu da vida a luz,

Prelúdio de seu rumo à Eternidade.

 

Tinha, então, tantos anos quantos tenho,

E todos respeitavam-lhe a velhice,

Tal Simão, descobriu que, um dia o lenho

Da cruz ostentaria, mas não disse.

 

Assim, num ano novo, vou em frente

Com a família e sonhos, na alegria,

Na morte, venha lenta ou de repente,

Não penso, vivo apenas cada dia.

 

Senhor, há quanto tempo, amo-Te tanto,

Mas, teu silêncio, causa-m’inda espanto.

 

Jaguariúna, 01/01/2020.

 Ives.

 

 

 

LUTA.

 

São os passos muito lentos,

Denotando sofrimentos

Pelas articulações,

Não dou bola, vou em frente,

Pois quem luta é diferente,

Desconhece as aflições.

 

Jaguariúna, 02/01/2020.

 Ives.

 

 

 

TEMPO.

 

Divirto-me se, no tempo,

Não uso o tempo que quero,

Mas tenho por passatempo

Meu tempo tornar austero.

 

Nem mesmo, se em contratempo,

Meu tempo voltar a zero

E retornar pelo tempo

Num tempo que retempero

 

E mesmo se rima em empo

Não encontrar, persevero.

Meu verso, sem contratempo,

 

Embora pobre, é sincero.

Escrevo por passatempo,

Enquanto a mente inda opero.

 

Jaguariúna, 03/01/2020.

 Ives.

 

 

 

DEVAGAR.

 

Pouco me importa o que sinto

Como estreitos de Corinto,

Passo em busca de alto mar.

O tempo segue depressa,

Mas por mais que eu o despeça,

Parece andar devagar.

 

Jaguariúna, 04/01/2020.

 Ives.

 

 

 

PAZ.

 

Saudades, eu as tenho, muitas vezes,

Das batalhas legais e dos esportes,

Sem parar trabalhava todos meses,

Nas férias, o labor não tendo cortes.

 

Família, com meus filhos, minha amada

Meu tempo conformado cada dia,

E meu Deus apontava a boa estrada,

Que trilhávamos todos, na alegria.

 

Minha gente cresceu sempre ao meu lado

E velhos, Ruth e eu, fomos em frente,

Nosso passo tornou-se mais cansado

E o bom convívio, fez-se diferente.

 

Sou grato, meu Senhor, se olho pra trás,

O prêmio que me deu, com tanta paz.

 

Jaguariúna, 05/01/2020.

 Ives.

 

 

 

RUTH.

 

A chuva faz tremular

Águas azuis, quais no mar,

Que vejo em minha piscina.

Sigo, nas férias, sereno,

De Ruth o coração pleno,

A minha eterna menina.

 

Jaguariúna, 06/01/2020.

 Ives.

 

 

 

RUTH.

 

Um amor descompassado

Inda sinto por você,

Sempre estando de meu lado,

A paixão o mundo vê.

 

Jaguariúna, 07/01/2020.

 Ives.

 

 

 

RUTH.

 

Um amor descompassado na velhice

Inda sinto por você, meu grande amor.

Para os outros, bem parece esquisitice,

Mas para mim nesta vida tem valor.

 

Não sabemos nosso tempo, quanto resta,

Mas sabemos mente sã que Deus concede,

Na verdade o que se faz é muita festa

Pelos anos que a virtude bem que mede.

 

Este tempo, há quanto tempo és de meu lado,

E há quanto tempo este tempo assim refaço.

Nosso futuro é presente do passado,

Mas vivemos cada dia em novo espaço.

 

Tal querer bem na velhice é sempre raro,

Mas do mundo não escondo e alto declaro.

 

Jaguariúna, 08/01/2020.

 Ives.

 

 

 

INFINITO.

Meu infinito é finito,

Finito como o universo,

Mesmo assim vivo meu mito,

Que se o transforma em meu verso.

 

SP, 09/01/2020.

 Ives.

 

 

 

NAVEGAR.

 

Navego por nebulosas,

Estrelas além dos céus,

Forjando lendas formosas

Atrás de sagrados véus.

 

SP, 10/01/2020.

 Ives.

 

 

 

A.

 

O tempo

Desfaz o tempo.

 

SP, 10/01/2020.

 Ives.

 

 

 

B.

 

O tempo

Constrói o tempo.

 

SP, 10/01/2020.

 

 

 

GRATIDÃO

 

A gratidão nem sempre é bem humano,

Nem dom que se descobre pelo mundo;

Padece quem a espera desengano

Pois o coração torna moribundo.

 

Tantos pais são por filhos esquecidos

E parentes por seus abandonados,

Amigos, se, na vida, desprovidos

Do conviver, às vezes, afastados.

 

Mas em Deus, todavia, a ingratidão

Jamais ocorre, embora sendo nós

Aqueles que ao Senhor dizemos não

De seu amor fugindo logo após.

 

Muitas vezes o ingrato quer nos mal,

Revivendo da cruz o seu sinal.

 

Jaguariúna, 10/01/2020.

 Ives.

 

 

 

BANDALHO

 

Na mesa branca trabalho,

Embora gozando férias.

Um cineasta bandalho

Fez do sagrado pilherias.

 

SP, 11/01/2020.

 Ives.

 

 

 

SONHOS

 

Nos meus sonhos desejei

Ver o meu mundo feliz,

Não precisando ter rei,

Forjando um belo país.

 

SP, 12/01/2020.

 Ives.

 

 

 

CORAÇÃO

 

Navego no imenso rio

De minha imaginação,

O tempo é tempo de estio,

Mas não em meu coração.

 

SP, 13/01/2020.

 Ives.

 

 

 

RUTH

 

Há quanto tempo tu és minha,

Há quanto tempo eu te quero,

O tempo veloz caminha,

Mas neste amor persevero.

 

SP, 14/01/2020.

 Ives.

 

 

 

VERÃO

 

A chuva pela janela,

Atrás a luz amarela

Torna o quadro tão sombrio

Felizmente, o bom verão

Aquece meu coração

Que por ti jamais é frio.

 

Jaguariúna, 16/01/2020.

 

 

 

VELHICE

 

Velhice torna o mundo diferente,

Pois a visão se tem, que o fim é certo,

Se sente que da vida um dia ausente,

Este dia se faz sempre mais perto.

 

Os erros e os acertos do passado

Não poucas vezes tisnam a memória,

As coisas temporais ficam de lado,

Mesmo aquelas que tem alguma história.

 

Sucessos e fracassos sem relevo

Aos toscos cestos vão do esquecimento.

Pouco importa até mesmo se longeva

A idade prolongar este momento.

 

A vida se reduz a uma emboscada,

Em que, sem Deus, lutamos para nada.

 

Jaguariúna, 17/01/2020.

 

 

 

FIM DE TARDE

 

Pouca luz, pois cai a tarde,

Há calor no meu jardim,

Foge o sol, este covarde,

E meu dia chega ao fim.

 

Jaguariuna, 18/01/2020.

 

 

 

NADA MAIS

 

Uma quadra nada mais,

Um verso que corre apenas,

Penduro-a pelos varais

Por sobre mil açucenas.

 

Jaguariúna, 19/01/2020.

 

 

 

INTEMPORAL

 

As pedras se desfiam pela idade,

E a solidez, no tempo, vira pó,

Por mais que seja sua densidade

Quem as possui, na vida, fica só.

 

Não há na imensidão o que não passe,

Pois todo o temporal terá um fim.

Apenas Deus, no eterno, a sua face

Reserva para os que disseram sim.

 

Não se sabe o tamanho do Universo,

Mas, um dia, por certo acabará,

Apesar de que o espaço do meu verso

No sonho bem mais longe ficará.

 

Na busca do infinito temporal,

As pedras ganham tom de catedral.

 

Jaguariúna, 20/01/2020.

 

 

 

RUTH

 

O meu canto no momento,

Tem o barulho do vento

E um silêncio noturnal,

Faz-se rico, mesmo pobre,

Pois, no tempo, ele descobre

Teu encanto angelical.

 

Jaguariúna, 22/01/2020.

 

 

 

RUTH.

 

Eu atiro meus jograis

Pelas antigas janelas,

Em gestos acidentais

Com cores das aquarelas.

 

Os versos pelos varais

Nas páginas amarelas

Tem cheiro de cafezais

Plantados em caravelas.

 

Eu fujo de bacanais

Componho sonhos nas telas

E nos castelos feudais,

Dançando mil tarantelas.

 

E vejo pelos portais

A mais bela entre as mais belas.

 

SP, 23/01/2020.

 Ives.

 

 

 

RUTH.

 

Eu esqueço meus lamentos,

Afasto meus sofrimentos

Quando te tenho ao meu lado,

As dores ficam esquecidas

E os sonhos de nossas vidas

Tornam presente, o passado.

 

Jaguariúna, 24/01/2020.

 

 

RUTH.

 

Ouço agora Debussy,

Do passado bem me lembro,

Quando declarei-me  a ti

Naquele mês de Dezembro.

 

Jaguariúna, 25/01/2020.

 

 

 

SUCESSO

 

Quanto mais eu envelheço,

Mais vejo ser pobre o preço

Da busca pelo sucesso.

Livrar-se desta sandice

É ser sábio na velhice.

Por isto a Deus isto peço.

 

SP, 26/01/2020.

 Ives.

 

 

 

ANA

 

A minha mesa arrumada

É por Ana, uma vez mais.

Minha pena é minha espada,

Onde meu verso é meu cais.

 

Jaguariúna, 27/01/2020.

 

 

 

VIDA

 

Mil encargos pela vida,

Muita coisa pra fazer,

Embora espere a partida,

Mas em pé até morrer.

 

SP, 28/01/2020.

 

 

 

MARLENE E ANDRÉIA

 

Minhas duas secretárias,

Nunca param seu trabalho,

Tornam-se quase lendárias,

Por isto, eu sei que mais valho.

 

SP, 29/01/2020.

 

 

 

PARA SILVIA AQUINO

 

À querida Sílvia Aquino,

No aniversário atrasado,

Esta orquídea do destino,

Queremos vê-la a teu lado.

Ives e Ruth

06/02/2020,

Pelo 23/01.

SONETOS ALÉM DO TEMPO

SONETOS ALÉM DO TEMPO

 2018

-I-

O tempo mostra à vida o seu tamanho

E a dimensão exata do que somos,

O livro que escrevemos, mesmo estranho,

Poderá ter —quem sabe?—  muitos tomos.

Quando jovens a morte não é tema,

Quando velhos sentimos a presença.

Fizemos, pelos anos, nosso esquema

Com certezas e, às vezes, com descrença.

Embora tudo gere mais cansaço,

De tudo temos mais conhecimento

E sabemos qual é o nosso espaço,

Que não tem, nesta idade, mais aumento.

É feliz quem a si não dá valor

E oferta para os seus somente amor.

SP, 16/01/2018.

Soneto de Abertura

Eu faço versos, eu não sei porque
Meu verso inculto é veio d’água suja,
Em vez de rio cristalino, cuja
Nascente o gênio, apenas, é quem vê.

Se eu faço versos, são para você?
Talvez o canto de seus olhos ruja,
Querendo o mar, num veio d’água suja,
E eu faço versos, eu nem sei porque.

Quem há, porém, que ao corriqueiro fuja
E, por um verso, a vida inteira dê?
Um verso rude, um verso tal, quem lê?

Que uma boiada toda, em versos, muja!
Meu verso inculto é veio d’água suja
E eu faço versos, eu nem sei porque.